PEDRO BESUGO

REVERSO
13 Abr - 30 Jun

Pedro Besugo apresenta, na exposição "Reverso", as obras resultantes da sua incessante e longa pesquisa conceptual e plástica: o mapeamento e levantamento constante da realidade, que não percecionamos diretamente, que dão origem a obras pictóricas escultóricas. 

Efectivamente, toda a criação de Pedro é escultórica, mesmo quando são trabalhos bidimensionais, e este pulo, para o tridimencional, é uma derivação dessa óptica, filosofia e, no fundo, ADN do artista que é escultor de formação.

Pedro Besugo desenvolveu telas e desenhos nos quais, através do recurso a colagens de mapas antigos ou de gravuras asiáticas, criou inesperados novos espaços concebendo arquitecturas imaginárias.

Pouco a pouco, a sua produção começou a libertar-se dos motivos mais figurativos, que então desenvolvia, sobertudo de paisagens urbanas e industriais, para dimensões sucessivamente mais abstratas. Esta seleção de obras é o ponto mais recente nesta busca.

Nos desenhos e pinturas desta exposição surgem detalhadas sobreposições de elementos, de diversas dimensões e técnicas. A bidimensionalidade do desenho e da pintura é interrogada, sobretudo nestas últimas, pelos motivos vazados, de um obsessivo rigor geométrico que se sobrepõem, constituindo novos espaços, como que um universo sob a epiderme das fachadas que nos rodeiam numa cidade. 

"Reverso" é a criação de um universo uno com diversos níveis de existência e cujo entendimento é vislumbrado graças ao papel determinante da forma e da cor.

Aos desenhos, realizados com uma complexa justaposição de dinâmicas camadas cromáticas, sobrepõem-se finas linhas em acrílico, revelando a longa prática do desenho de Pedro. Evidenciam-se pelo grande cuidado com que são desenhadas, como uma movimentação contínua do padrão sobre a superfície do papel.

Destes contrastes, entre linhas traçadas e o fundo de múltiplas policromias, resulta um excepcional equilíbrio, de forte impacto visual devido à sua notória oposição e constante diálogo que resulta numa complementaridade edificante.

O trabalho de Pedro assenta, efectivamente, na construção de obras esculturais das quais a sua conclusão e harmonia assenta no euilíbrio perfeito entre forma e cor.

Tecnicamente mais complexas, mas dentro do mesmo espírito, surgem as pinturas bi ou tridimensionais, que deixam a sua diferenciação ao critério dos públicos, de acordo com a leitura e perspectiva do seu olhar.

As linhas que observamos nos desenhos transfiguram-se em motivos vazados, criteriosamente, dispotos por Pedro, dentro de um programa e visão pré estabelecidos, mas abertos para a experimentação do inesperado. Estes vazados são pintados a azuis, castanhos e verdes-escuros, com tons de cinza e chumbo e raros brancos, numa construção e sobreposição de planos escultóricos ou arquitecturais.

Estes trabalhos remetem-nos para estruturas arquitectónicas, sejam os interiores dos muros das construções pombalinas ("gaiolas" antissísmicas), sejam as maciças traves e pilares das construções em betão, antes de serem revestidas por muros que as transformam visualmente num maciço uno. Mas outros universos ou motivos poderão estar presentes. Somos tentados a reconhecer, as gelosias de motivos geométricos, comuns no mundo islâmico, mas numa assemblage totalmente nova.

Estas construções esccultóricas de Pedro desafiam-nos a desejar atravessar as suas diversas e complexas camadas, texturas e fisionomias que formam um inusitado hermético "puzzle mundus" de formas e cores.

Esta é a inquietação, busca e criação de Pedro Besugo: a configuração dos espaços; a complementaridade das formas com as cores e a projecção e construção de novas realidades, novos caminhos, novas percepções e novos percursos dentro destas esculturas.

Pedro Besugo projeta e mapeia novos caminhos, orientando o nosso percurso para realidades não visíveis, mas sempre presentes sob as superfícies, aparentemente, impenetráveis das coisas. 

 

Nuno Vassallo e Silva